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Dream Life Capitulo 1 (parte 4)

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Natalie ficou me evitando durante o resto da semana. Eu entendo que foi um pouco constrangedor o que aconteceu, mas não acho que seja necessária tal atitude. Mesmo assim, não é como se eu estivesse reclamando: tudo o que eu queria era um pouco de sossego, embora eu ainda tivesse que lidar com Alan que sempre me enchia.
- Não é melhor você tentar falar com ela? – ele pergunta na segunda quando chegamos para a aula no Dream Life.
- E por que eu faria isso? Até onde eu sei, só precisava ser legal caso ela viesse falar comigo. Nunca combinamos nada de que eu teria que tomar a iniciativa. Aliás, não é como se tivesse sido para tanto. Ela que está exagerando.
- O problema não é esse. Eu acho que ela quer se desculpar com você, só está sem jeito para fazer isso.
- Então que fique! Assim é melhor para mim.
Alan tenta me repreender com o olhar, mas não é como se isso fosse efetivo comigo, então ele logo desiste.
Além disso, eu tinha assuntos mais importantes para me preocupar: aquele era o dia em que finalmente teria início a fase regional do torneio no Coliseu. Durante toda a semana eu tenho treinado para que pudesse ter uma chance de vencer os melhores, o que incluía Alan. A consequência do meu treinamento é que agora eu estou no nível 64, quase maximizando meus status de velocidade.
As aulas parecem passar devagar, aumentando ainda mais o meu nervosismo. Eu não costumava ficar assim, pois sabia da minha capacidade como jogador e tinha certeza de que poderia ganhar aquele torneio. O problema é que, caso não tenha comentado ainda, eu odiava ser o centro das atenções, e o torneio era aberto para o público e tinha streaming ao vivo para os principais sites de games do mundo. Só de imaginar, eu já não me sinto muito bem.
Quando a aula termina, Alan e eu vamos correndo até o Coliseu. As lutas começariam em meia-hora, então tínhamos que chegar antes para vermos como estavam organizadas as nossas. O torneio regional consistia de uma fase de grupos com quatro jogadores cada, partindo para a segunda etapa onde só passavam os dois melhores de cada grupo. A única coisa que eu queria era que Alan e eu ficássemos bem distantes um do outro na organização dos grupos, assim teríamos mais chances de nos enfrentarmos na final.
- Anda logo, Marcos. Precisamos ficar logo de prontidão.
- Eu sei! – eu grito enquanto tento passar pela multidão que bloqueava nosso caminho. – Mas por que tanta pressa assim do nada?
- Eu jogo isso aqui há anos e já enfrentei muitos dos competidores. Se eu souber contra quem você vai lutar, pode ser que eu consiga te dar uns conselhos.
Alan já era bem experiente nesse assunto: participou duas vezes do torneio e, em uma delas, chegou até a fase nacional, embora tenha perdido nas quartas de final para o que foi o campeão nacional daquele ano. Ele já estava acostumado a enfrentar os melhores que existiam, então seria muito útil ouvir o que ele tinha a dizer.
As competições aconteciam sempre na arena #1, o maior e principal campo de batalha que existia no Coliseu, englobando todas as características que as quatro menores tinham e mais algumas exclusivas.
Quando chegamos, todos olhavam para um grande telão que havia sido colocado na entrada. Nele estão disponibilizados os grupos e como estão organizados: havia oito deles, indo das letras “A” até “H”. Dentro de cada um estava o nome dos participantes, então eu procuro logo pelo meu.
- Você está no grupo “B”. – Alan me avisa, apontando para o meu nome no telão – Eu estou no “D”, então existem as seguintes possibilidades: se nós dois ficarmos em primeiro, nos enfrentaremos nas semifinais. Caso fiquemos em segundo, nos encontraremos logo nas quartas de final, enquanto que, se um ficar em primeiro e o outro em segundo, nossa luta só vai acontecer nas finais.
- Bem… acho que eu te espero nas semifinais, então. – eu dou um tapinha no ombro dele. – Não é como se eu fosse ficar em segundo no meu grupo.
- Ah, Marcos…? Eu não sei se teria tanta certeza se fosse você.
- Por que você diz isso?
- Dá uma olhada em quem está no seu grupo.
Eu leio os nomes dos outros competidores: Headhunter, Axe¬_Armor e Valquíria de Prata, mas nenhum deles desperta qualquer memória na minha cabeça.
- É para eu tomar cuidado com algum deles?
- Você nunca ouviu falar da famosa Valquíria de Prata?
- Ela é boa? Porque eu não lembro de ter visto o nome dela entre os melhores do ano passado.
- Isso é porque ela não compete há dois anos. Na ultima vez que entrou no torneio, ela acabou com todo mundo que estava no caminho e só perdeu nas semifinais da fase nacional. – ele explica – Só que, do nada, ela sumiu logo depois e ninguém nunca mais ouviu falar dela. Quer dizer, até agora.
- Será que é a mesma de antes? Eu sei que não se pode criar dois usuários com o mesmo nome, mas se ela apagou a conta na época, pode ser que alguém só está utilizando o nome dela para se destacar no torneio. – eu cogito essa possibilidade.
- É… Pode ser. De qualquer modo, você só vai enfrentá-la daqui a dois dias, então se foque em derrotar o Headhunter que depois a gente vê as gravações de hoje para conferir se essa é ou não a Valquíria.
Depois de alguns minutos, os competidores são finalmente chamados para comparecerem aos seus lugares para que as lutas tenham início.
- Marcos, espera. – Alan me puxa antes que eu possa sair da multidão.
- O que foi?
- Tenta cobrir o rosto de algum jeito. Assim você preserva sua identidade como jogador.
- Ah, sim. Valeu pela dica.
Eu faço como ele diz e coloco o capuz do casaco cobrindo o meu rosto. Se eu fizesse aquilo no mundo real, não daria muito certo, mas existe um jeito de programar para que a sombra do capuz seja projetada com mais intensidade e mais longe de onde normalmente alcançaria, funcionando exatamente do jeito que eu queria.
- Você não vai fazer o mesmo? – eu pergunto para Alan.
- Não preciso. O pessoal aqui já me conhece. Já ouvi falar que tenho até um fã-clube criado por algumas jogadoras.
- Não duvido da possibilidade.
Com tudo pronto, nós vamos para a sala de teletransporte junto com outros competidores. Alguns, assim como eu, cobriam o rosto. Muitos aparentavam nervosismo, andando devagar e calados enquanto olham para o chão. Isso era perceptível no competidor mais novo: um garoto que não deveria ter mais do que treze anos. As pernas tremiam enquanto andava, dando a impressão de que ele iria tombar a qualquer instante. Quem estivesse no mesmo grupo desse aí já tinha uma vitória garantida.
Quando chegamos na sala, Alan se despede de mim e entra logo em uma das cápsulas. Ele normalmente era agitado e brincalhão, mas quando o assunto era sério, ele assumia uma postura completamente calma, embora não fosse frio como eu. Ele sabia que quem estava ali tinha consciência de suas próprias habilidades, então não seria sábio subestimar ninguém, nem mesmo o garotinho medroso.
Havia uma frase que eu comecei a dizer para mim mesmo de uns tempos para cá e que resume muito bem o comportamento de qualquer competidor: nunca subestime a capacidade dos adversários, mas também não subestime a sua própria.

Diferente das lutas que eu tive anteriormente, os participantes não aparecem no centro da arena por se tratar de uma luta oficial. Ao invés disso, cada um era transportado para uma câmara posicionada em cada canto abaixo das arquibancadas, com um grande portão de ferro que era aberto quando a partida estava prestes a começar.
Minha ansiedade é grande, mas consigo me manter calmo. Quando o portão se abre, eu caminho lentamente para o lado de fora, não me incomodando com os gritos da multidão. As arquibancadas estavam lotadas, o que, de acordo com as informações da Sabertooth, seriam mais ou menos 30 mil pessoas, isso sem contar com quem estava assistindo por streaming.
- Sejam bem-vindos a mais um torneio da Sabertooth Arena! – anuncia animada a apresentadora, fazendo com que os gritos da torcida fiquem ainda mais altos – Hoje daremos início a uma das partidas do grupo “B”: de um lado está o caçador impiedoso, Headhunter! Do outro, o invencível cavaleiro negro: Nightchaser!
Não sei desde quando eu tenho um título desses, mas não devo negar que gostei, principalmente do “invencível”.
- Como todos sabem, a fase de grupos é realizada apenas em arenas simples, então não haverá uma seleção de estágios no momento. Por isso, competidores, podem se preparar, que a partida já vai começar.
Quando ela diz isso, eu invoco minhas armas. Como sempre, eu estou com uma espada na mão esquerda e um escudo no braço direito. No entanto, elas não são as mesmas que eu costumava usar. Conforme eu passava de nível, eu trocava por armas com habilidades mais convenientes para o meu estilo de jogo. Por exemplo, minha espada atual tem a Return to Sender, uma habilidade útil que faz com que ela reapareça na minha mão quando eu quiser, servindo para momentos em que eu tenha sido desarmado ou tenha arremessado a espada contra o oponente.
Preparado, eu dou uma olhada para meu adversário. Ele me lembrava muito a garota que eu havia enfrentado duas vezes há alguns dias: usava uma capa e roupas leves como um “gatuno”, que ele também deveria ser focado em velocidade, mas não cobria o rosto. No entanto, havia algo que me deixava levemente preocupado: eu não sabia que armas ele estava usando. Diferente da garota, a capa que ele usava cobria praticamente todo o corpo, tornando impossível ver que tipo de arma ele segurava. A única certeza que eu tinha é que ela deveria ser razoavelmente pequena para poder ser escondida, então a primeira coisa que me vem à cabeça seria algum tipo de adaga.
“Não tenho que me preocupar com nada”, eu penso comigo mesmo. Eu já havia enfrentado alguém bem parecido antes, então o resultado seria praticamente o mesmo. Aquela seria uma luta fácil.
- Jogadores, preparem-se! – a apresentadora anuncia – A partida vai começar em cinco… quatro… três… dois… um…
Quando o sino toca, eu avanço para cima do meu oponente como um relâmpago. Eu não pretendia atacar e nem me aproximar muito, mas eu queria ver como que ele reagiria à minha velocidade.
No entanto, enquanto eu estou correndo, eu sinto minha perna doer de repente e caio no chão, rolando por alguns metros por causa da velocidade. Foi algo bem rápido, mas eu vi o momento em que algo foi disparado por debaixo da capa do Headhunter, embora não tivesse sido capaz de desviar.
- Esperto utilizar uma besta desse jeito. – eu comento com meu adversário.
- Sério mesmo que você percebeu? – ele pergunta surpreso. Talvez ele não tivesse continuado o ataque porque achava que eu não havia percebido e que cairia de novo no truque dele – Normalmente, como a flecha é muito rápida e desaparece assim que atinge o alvo, as pessoas demoram um pouco para entender o que aconteceu.
- Eu consegui ver o momento em que ela foi disparada. Mas a velocidade… Deixe-me adivinhar: está usando Rapid Fire, não é?
- Já usou uma besta antes para saber tanto?
- Já enfrentei algumas pessoas que usavam, principalmente com essa habilidade. – eu respondo.
- Então deve saber que o Rapid Fire tem duas vantagens, certo? – ele comenta com um sorriso, revelando a besta por debaixo da capa.
- Droga!
A habilidade dele era muito utilizada pelos usuários de besta, mas não era pela velocidade adicionada à flecha. Isso era apenas um efeito secundário para o que ela era realmente utilizada: poder atirar até três flechas por segundo, ao invés de apenas uma, como é normalmente. O rapid do nome da habilidade não era por causa da trajetória da flecha, mas por causa da cadência de tiro. A única desvantagem é que o dano de cada flecha, como consequência, era apenas um terço do que costuma ser.
Quando percebo o que está prestes a acontecer, eu parto para correr o mais rápido possível. As flechas saem da besta como balas de uma metralhadora, deixando um rastro por onde eu passo. Aquela era uma habilidade perigosa, mas eu já havia enfrentado outras pessoas que lutavam do mesmo jeito, então posso dizer que tinha bastante experiência contra isso.
Eu continuo correndo por alguns segundos calmamente, pois eu via com precisão cada tiro dado. No entanto, eu perco um pouco o controle quando ele revela a segunda besta na mão esquerda. Enquanto os tiros da primeira arma acompanham o meu movimento com um passo de atraso, os da segunda são disparados à minha frente com antecedência, só não me atingindo porque eu consigo desviar em cima da hora.
No entanto, havia alguma coisa estranha com aquela arma. Quer dizer, talvez para a minha sorte, ela não estava equipada também com Rapid Fire, mas não consigo imaginar o motivo de não colocá-la com a mesma habilidade. A única coisa que percebo, além da diferença de cadência, é que ele estava mirando no meu torso ao invés das pernas, que é como ele esteve fazendo até agora.
No entanto, são esses pequenos detalhes que revelam os verdadeiros segredos.
Se havia uma coisa no qual eu era bom, era em raciocinar durante uma luta. Para quem está assistindo, não deve estar muito emocionante, já que eu estava apenas fugindo dos tiros, mas para mim era a coisa mais divertida. Meu corpo se move por instinto, já adaptado aos padrões dos ataques. Enquanto isso, minha mente pensava em um plano, observando cada mínimo detalhe que pudesse ser útil para virar o jogo.
É então que eu penso me partir para o ataque. Só não fiz isso antes porque estava receoso quanto à habilidade da segunda besta dele, mas agora que eu percebo o que há de tão especial naquela arma, eu preparo meu contra-ataque.
Eu continuo correndo até finalmente fazer uma curva em noventa graus na direção do meu oponente, surpreendendo todo mundo que estava assistindo. No entanto, a surpresa maior é a do meu oponente quando ele atira com as duas bestas contra mim e eu defendo todos os tiros com o escudo.
- Como…?
Ele está tão estonteado que não consegue revidar quando eu o acerto com uma joelhada no estômago e continuo com ataques seguidos com a espada, primeiro acertando suas mãos para que ele largasse as armas.
Realmente… para quem estava assistindo àquela luta, deveria estar entediante, pois ela chega rapidamente a um fim. A barra de HP do meu oponente zera e, com o grito da torcida, eu venço minha primeira luta no torneio.
- O vencedor da partida é… Nightchaser!
E novamente a arquibancada inteira grita, como se fossem todos treinados para reagirem sempre que a apresentadora falasse algo.
- Mas como? – eu ouço o Headhunter indagar para si mesmo – Era para você ter sido atingido pela minha flecha.
- Pierce, não é? – eu pergunto.
- É, mas… como você descobriu?
- Por dois motivos. – eu respondo – Primeiramente, eu imaginei que você precisaria estar preparado caso enfrentasse alguém mais voltado para defesa e que dependesse muito de escudos. Em segundo lugar, por causa da sua provocação. Você estava mirando no meu corpo para que eu fosse obrigado a me defender com o escudo. A única coisa com a qual você não contava é que o meu escudo tinha uma habilidade bem simples chamada Anti-pierce.
- Você já sabia que eu ia usar isso?
- Na verdade, eu passei a usar isso depois que enfrentei uma garota que me fez perceber as falhas da minha defesa. É tudo uma questão de saber os erros e corrigi-los.
Dito isso, eu dou as costas para o meu adversário e me dirijo à saída, já que eu havia combinado com Alan de nos encontrarmos na entrada da arena #1 quando terminássemos.

No dia seguinte, eu acordo e coloco os óculos que estavam na escrivaninha ao meu lado. Era um dia ensolarado, o primeiro em muito tempo. Os raios de sol atravessavam a cortina fechada por suas brechas. Eu normalmente preferia dias de chuva, mas acho que estava gostando por causa do meu humor atual.
A luta tinha sido fácil, mas não dava para negar que era uma sensação boa ganhar em um dos torneios mais disputados de todo o Dream Life. Cada vitória era um passo em direção ao meu desejo de me tornar campeão daquele jogo.
Depois da partida, Alan e eu fomos até uma lanchonete que tinha em frente à loja da Sabertooth Arena. Ele me informa que, infelizmente, só poderemos ter certeza se aquela era realmente a Valquíria de Prata hoje à noite, que é quando ficam disponibilizadas as filmagens das partidas. No final, acabamos apenas discutindo como foi a luta de cada um, compartilhando estratégias e informações sobre nossos oponentes.
- Marcos. – minha mãe me chama do outro lado da porta – Abre um pouco a janela pra deixar entrar um pouco de luz no seu quarto.
- Pode deixar.
Eu me levanto da cama e vou até a janela. O dia podia estar ensolarado, mas não estava tão quente quanto aparentava, pois, para a minha surpresa, sinto um vendo gelado entrar assim que abro a janela.
No entanto, essa não era a única surpresa.
A casa ao lado havia sido vendida há alguns dias, mas eu nunca cheguei a ver quem eram os novos vizinhos. Pelo menos, até aquele momento.
Quem dormia no quarto em frente ao meu também teve a ideia de abrir a janela para aproveitar aquele belo dia. O problema é que eu conhecia aquela pessoa, e queria fazer o máximo para evitá-la.
- M-Marcos?
Natalie me olhava confusa. Ela vestia um pijama rosa com um casaco azul e amarrotado por cima. Seu cabelo estava completamente despenteado, o que significava que ela também acabara de acordar.
E é assim que eu descubro quem é minha vizinha atual (embora preferisse não saber).

Aqui está a última parte do primeiro capítulo de Dream Life.

Infelizmente, eu não pude postá-la antes, pois alguns imprevistos aconteceram.  Por outro lado, eu planejo começar a publicar com um pouco mais de frequência, já que eu decidi que não irei mais traduzir para inglês, já que isso tomava um pouco mais de tempo do que eu gostaria.

Aviso ainda que planejo fazer o pequeno texto explicativo sobre o capítulo 1, mas não tenho uma data prevista.

Aos que gostaram de Dream Life até agora, espero que continuem acompanhando.

Até a próxima.

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© 2014 - 2024 Dean-Azazel
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